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domingo, 20 de novembro de 2011

fragmentos selecionados da entrevista com Mirian Goldenberg para TPM

"Em 2008 você lançou o livro Coroas e já escreveu sobre a vontade de fazer um movimento ou um programa de TV com esse nome, que seria uma bandeira. Sente-se velha?

Não é uma questão de sentimento. No Brasil, a partir dos 30 e poucos anos, você é rotulada, já é etiquetada de velha. Quando fiz 40, fui num dermatologista que falou: “Vamos puxar aqui, esticar ali”. Fiquei em crise um ano. Mas decidi não fazer nenhuma interferência e foi ótimo. Nunca fiz nem peeling. E desde lá minha vida só melhorou. Na Alemanha, eu não seria velha. Mas aqui tem a etiqueta. Somos muito acostumadas com o olhar dos homens. Quando chega aos 40, eles não olham mais. Tenho 54 anos, e eles estão olhando para as meninas de 25. É óbvio que você sente uma invisibilidade que não deseja sentir, não foi isso que aprendeu. Mas prefiro assumir essa etiqueta e brincar com ela.
"No Brasil, a partir dos 30 e poucos anos, você é rotulada, já é etiquetada de velha. Quando fiz 40, fui num dermatologista que falou: “Vamos puxar aqui, esticar ali”. Fiquei em crise um ano."
O que piora e melhora com a idade?

Quero falar o que é diferente. A grande diferença é que coloco cada vez mais o foco em mim, nas minhas vontades. É a grande revolução da minha vida. Nos últimos quatro anos, aprendi a dizer não. Não gosto de festa, então era difícil quando dizia sim para todos os convites que recebia para lançamentos de livros, palestras... Me sentia culpada. Pensava: “Ninguém vai me chamar mais para nada. Se começar a dizer não, vão deixar de gostar de mim”. Mas não aconteceu isso. As pessoas entendem porque, de alguma forma, também estão tentando corresponder à demanda. Com o tempo, fiquei mais segura. Tenho mais coragem de dizer e escrever o que penso sem medo da opinião dos outros, da censura. Quanto ao corpo, tenho o mesmo peso desde os 20 e poucos anos e aprendi a olhar mais o conjunto da obra do que o detalhe. Me reconheço no espelho. E quero ser cada vez mais eu mesma.

O que é ser você mesma?

É usar as roupas de que gosto e não as que os outros estão esperando que eu use. É gostar do meu nariz, mesmo que ele não seja minúsculo e perfeitinho. Tenho carinho por quem me tornei. Mas meu ideal é dialético: é a junção de duas mulheres que fazem parte da minha história, que me inspiram muito. Queria ter uma junção da liberdade da Simone de Beauvoir com a felicidade da Leila Diniz. Mas já sei que só posso ser inteira a Mirian Goldenberg."

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